História, teologia e refutação
História
O movimento conhecido como Identidade Cristã tem origem noutro movimento conhecido como Israelismo Britânico. As raízes do Israelismo Britânico remontam ao séc. XVI e a suma do seu ensino é que somente as pessoas originárias da Grã-Bretanha seriam as descendentes genéticas das Dez Tribos Perdidas de Israel (Reino do Norte). A origem deste ensino é traçada ao huguenote francês M. le Loyer e à sua obra As Dez Tribos Perdidas, e popularizada no séc. XVIII por John Wilson e a sua obra A Nossa Origem Israelita, onde afirma que as dez tribos perdidas de Israel saíram do Médio Oriente, atravessaram a Europa e instalaram-se nas ilhas britânicas.
Migrando para os Estados Unidos no início do séc. XX, a Identidade Cristã surge com ideias semelhantes, acrescidas de um forte antisemitismo. Wesley A. Swift é tido como o pai do movimento Identidade Cristã. Conhecido pelas suas ideias de supremacia branca, Swift fundou uma comunidade denominada de Congregação Cristã Anglo-saxónica, mudando para Igreja de Jesus Cristo-Cristã mais tarde. A estas comunidades estão associados o movimento Ku Klux Klan e outros que atuaram frequentemente com violência fundamentados na sua ideologia.
Doutrina e teologia
A Identidade Cristã faz uma leitura étnica do cristianismo, cuja premissa premissa central é a de que os anglo-saxões, germânicos, escandinavos e outros povos europeus são os únicos verdadeiros israelitas e a raça eleita de Deus.
Aderem também à hipótese adâmica e pré-adâmica. Esta hipótese ensina que apenas os caucasianos são descendentes de Adão e Eva, e que as restantes raças são identificadas como os "animais selváticos" (Génesis 1.25). Apelam à etimologia da palavra hebraica para Adão, que deriva da palavra "ruivo" ou "avermelhado", afirmando que implica o corar do rosto branco, algo que não pode acontecer a quem tem pele escura. Ensinam também que os não caucasianos não possuem alma e, por isso, não podem ganhar o favor Deus nem ser salvos. Ensinam que os caucasianos são o povo escolhido de Deus, de acordo com as promessas feitas a Abraão, Isaque e Jacob (1º Crónicas 16.15-22)
Da mesma forma, ensinam a doutrina da semente da serpente. De acordo com esta doutrina, Eva teve relacionamentos tanto com Adão, como com a serpente no jardim do Éden. O filho de Adão seria Abel, e da serpente, Caim. Caim tornou-se o ancestral dos judeus na sua procriação com as "raças não-Adâmicas".
Também creêm na teologia da Duas Casas que faz distinção entre a Tribo de Judá e as 10 Tribos do Reino do Norte aquando da separação do Reino de Israel em 931 a.C. (1Reis 12), e em 721 a.C., o Reino do Norte é disperso na invasão Assírica, que dá origem aos povos europeus caucasianos.
Refutação
A soteriologia bíblica não dá espaço para uma interpretação étnica da salvação. O apóstolo Paulo escreve na carta aos Gálatas:
"Não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos são um em Cristo Jesus."
Gálatas 3.28
A Bíblia ensina claramente que Adão e Eva foram os primeiros seres humanos, e que todas as raças descendem deste único casal. A leitura literal da criação do ser humano em Génesis é fundamental para a formação de uma teologia bíblica coerente. A implicação de raças pré-adâmicas é estranha aos autores bíblicos. Pelo contrário, vemos o apóstolo Paulo afirmar que:
"de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação"
Atos 17.26
Em nenhum ponto do relato bíblico vemos a descrição ou insinuação de Eva ter relações com a serpente. No relato de Génesis 3, não existe nenhuma conotação sexual para a interação entre a serpente e Eva. A desobediência de Adão (e Eva) prende-se literalmente com a toma do fruto da árvore que Deus tinha proibido (Génesis 3.3), desobediência essa que leva à queda do ser humano.
Não existe relato bíblico que afirme a origem do povo caucasiano nas 10 Tribos Perdidas de Israel. A Identidade Cristã faz alusão a um livro apócrifo (2Esdras) para defender esta posição e no relato bíblico inspirado, não podemos seguir com precisão os destinos dos povos após a invasão Assíria do Reino do Norte.
Conclusão
A Identidade Cristã contraria o ensino bíblico da salvação com base na fé em Cristo somente, sem qualquer associação ou identificação étnica. Todos os seres humanos de todas as raças são descendentes de Adão e Eva e possuem a imago Dei, com a devida dignidade e alma infinita. O Movimento Identidade Cristã faz uma leitura errada da Bíblia para justificar doutrinas raciais extremas e deve ser evitada.